Apresento a você minha lista dos melhores lançamentos nacionais de 2009. A força da produção independente seguiu fazendo a diferença na música nacional. Dos dez discos selecionados, nada menos que oito são independentes (o de Vanessa Bumagny foi apenas distribuído por uma multinacional). Veja a relação:
VERÔNICA FERRIANI – Verônica Ferriani – Independente - A cantora paulista Verônica Ferriani, nome fortíssimo da nova cena musical, em 2009 lançou seu tão aguardado primeiro disco, produção independente auto-intitulada, distribuída pela Tratore - http://www.tratore.com.br/. O trabalho tem produção de BiD e da própria cantora. O repertório, bastante diversificado em termos de tendências e origens dos temas, recebe tratamento instrumental com pitadas eletrônicas. A voz de Verõnica, de enorme beleza, passeia com serenidade e balanço por canções como Eu Amo Você (de Cassiano, gravada originalmente por Tim Maia), Com Mais de 30 (Marcos e Paulo Sérgio Valle), Fez Bobagem (Assis Valente) e If You Want To Be a Lover (do bossanovista catarinense Luiz Henrique, gravada originalmente por ele em dueto com Liza Minnelli nos anos 70). Verônica Ferriani dá prova de enorme versatilidade num trabalho de enorme beleza. MySpace: www.myspace.com/veronicaferriani
VANESSA BUMAGNY – Pétala Por Pétala – FNM/Universal - Dona de uma das mais interessantes vozes da novíssima geração, a cantora e compositora paulistana Vanessa Bumagny lançou em 2009 seu segundo disco, Pétala Por Pétala. Produzido por Zeca Baleiro, o novo trabalho vem confirmar a qualidade da artista, já manifestada em seu álbum de estreia, o elogiado De Papel, de 2003. Vanessa, que também é atriz, tem voz doce e sabe tirar proveito das nuances melódicas das canções graças à força interpretativa. Pétala por Pétala traz canções deliciosas como Flor (Vanessa), com letra levemente melancólica e melodia inspirada nas mornas cabo-verdeanas, o calipso Triz (Vanessa), Blind Mask (Vanessa/Zeca Baleiro), com letra em inglês, a romântica Não Quero Mais Fugir (Vanessa), com arranjos calcados nos violões de Tuco Marcondes e no cello de Lui Coimbra, o xote Linha de Fogo (Vanessa), com participação de Dominguinhos na voz e acordeom, e o cha-cha-cha Ciúme Não Mata (Zeca Baleiro/Vanessa Bumagny), que tem por base os violões de Zeca Lourenço e o violino de Thomas Rohrer. Grande disco. MySpace: www.myspace.com/vanessabumagny
JULIANA KEHL – Juliana Kehl – Independente - Difricilmente um disco como o da cantora e compositora paulistana Juliana Kehl encontraria guarida numa grande gravadora. Trata-se de obra intensa, impregnada de forte personalidade musical, anos-luz dos ditames do cada vez mais frágil e inconsistente mercado fonográfico. Cantora de timbre suave e cristalino, Juliana navega por um caudaloso mar de cirandas, toadas, canções. Quando caminha por releituras, se apossa despudoradamente das melodias e versos, trazendo-os para seu mundo. É assim com Oiê, de Junio Barreto, e Outras Mulheres, de Joyce e Paulo César Pinheiro. A compositora se mostra versátil como melodista e letrista. Nese segundo quesito aborda temas como destino e passagem do tempo (na densa Sinhô do Tempo), o abrigar de almas (Tá Perdido, Nego, com participação de Junio Barreto) ou o amor (A Música Mais Bonita). Juliana Kehl tem também boas parcerias com a irmã, a pricanalista Maria Rita Kehl (Viação Cometa), Dipa (Ele Não Sabe Sambar (Pedrarias Prata e Pó)), Gustavo Ruiz (Diadorim (O Sertão é do Lado de Dentro)) e Karina Buhr (Vinheta Carnação, também com Dipa). Trabalho feito com alma, dedicação, identidade e sinceridade. MySpace: www.myspace.com/julianakehl
PATRICIA TALEM – Patricia Talem – Independente – O disco de estreia da cantora paulistana Patricia Talem é um dos trabalhos mais refinados dos últimos anos. Dona de timbre belíssimo e bom gosto excepcional, ela interpreta temas inéditos, resgata pérolas da MPB e traz uma canção do canadense Ron Sexmith (Never Give Up, que canta em dueto com Arnold McCuller, ex-backing vocal de James Taylor e Phil Collins). Produzido por Sandro Albert e Marco da Costa, Patricia Talem, o disco, revela uma cantora segura, que sabe tirar de cada verso a intenção correta. Um cantar suave, que agrada aos ouvidos. A produção segura permite à intérprete brilhar intensamente. O CD, que foi lançado também nos Estados Unidos, tem participações especiais do pianista/tecladista Russell Ferrante e do baixista Jimmy Haslip, ambos do grupo Yellowjackets. Entre as canções estão Ludo Real (Chico Buarque/Vinícius Cantuária), Tardes Castanhas (Renato Motha/Patrícia Lobato), Tarde Solar (Flávio Venturini/Alexandre Blasifera), Filho do Mar (Keco Brandão/Rita Altério) e No Tom (Sandro Albert/Elder Costa). Estreia segura e de qualidade. MySpace: www.myspace.com/patriciatalem
ERASMO CARLOS – Rock’n’Roll – Coqueiro Verde - Erasmo Carlos é um garoto. Aos 68 anos segue em frente com o que todo roqueiro deveria ter como profissão de fé: se diverte com o rock. Ao invés de agir como a geração dos emos de franjão na cara, formada por ninfetos de vinte anos que cantam desilusão e melancolia e fazem bico de tristeza, Erasmo exalta a juventude, as mulheres, e boa vida. Prova disso está em Rock’n’Roll, primeiro disco por sua própria gravadora, a Coqueiro Verde. Produzido por Liminha, o CD traz o Tremendão gaiato, romântico e bem humorado, sem perder de vista o lado crítico. O repertório tem doze temas inéditos, que vão do rock ao blues passando por baladas. No rock Cover (Erasmo) ele debocha de si mesmo ao falar da passagem do tempo. Chuva Ácida (parceria com Nelson Motta) é uma bela balada que retrata o fim de um amor. A Guitarra É Uma Mulher (dele e Chico Amaral) mescla a paixão pelo rock e pelo sexo oposto. Em Olhar de Mangá (Erasmo) ele escala uma verdadeira seleção de mulheres talentosas. Um Beijo É Um Tiro (com Nando Reis) é outro rock de pegada visceral. Há também parcerias com Liminha e Patrícia Travassos, mas nenhuma com Roberto Carlos (eles seguem trabalhando juntos, mas o material está sendo guardado para futuros trabalhos do Rei). Erasmo Carlos está compondo e cantando muito bem, com vontade, absolutamente solto. Quem ganha é o público. Discaço, injustiçado no último Grammy Latino (os premiados na categoria Álbum de Rock Brasileiro foram, inacreditavelmente, NX Zero e Titãs, com os horrendos Agora e Sacos Plásticos). Site: www.erasmocarlos.com.br
JOÃO BOSCO – Não Vou Pro Céu Mas Já Não Vivo No Chão – MP,B/Universal - O novo CD de João Bosco, marcou, entre outros pontos positivos, a retomada efetiva da parceria com Aldir Blanc, representada pelos inspirados Navalha, Mentiras de Verdade, Plural Singular e Sonho de Caramujo. Além disso, há temas com Carlos Rennó (Pronto Pra Próxima e Pintura) e Nei Lopes (Jimbo no Jazz), além de uma ótima releitura de Ingenuidade (Serafim Adriano), samba gravado por Clementina de Jesus em 1976, no mesmo disco que eternizou Incompatibilidade de Gênios, de João e Aldir. A sinergia melódica e poética de João Bosco com o filho Francisco surge com força ainda maior que em trabalhos anteriores graças a Perfeição, Tanto Faz, Desnortes, Tanajura e Alma Barroca. João Bosco navega por levadas delicadas e temas suingados sempre com segurança e inventividade, passando por samba, balada e blues. É, além de notável compositor e cantor inovador, um dos mais versáteis violonistas brasileiros. Amor, humor, autorretrato, raízes africanas, tudo junto num álbum pautado pela inventividade. Site: www.joaobosco.com.br/
ANA CAÑAS – Hein? – Sony Music - Em seu segundo disco a paulistana Ana Cañas revelou um bem resolvido lado roqueiro. A cantora e compositora veio com trabalho totalmente diferente de Amor e Caos, que marcou sua estreia em 2007. Produzido por Liminha, expert no gênero, Hein? é coeso e bem realizado. Ana decidiu convidar o produtor após ouvir a discografia dos Mutantes. Percebeu que ele era o nome ideal para levar adiante um projeto com essas características. Ana Cañas associa a vertente rocker ao enfrentamento das dificuldades de sobreviver às próprias custas, visto que saiu de casa muito jovem para buscar seus caminhos. Isso se reflete em canções como Na Multidão (Ana/ Liminha/ Arnaldo Antunes), Coçando (do trio e também de Dadi), Esconderijo (Ana), balada com espírito roqueiro e Gira (Ana/Flávio Rossi/Liminha). O repertório tem também dois reggaes, Sempre Com Você (Ana/Dadi) e Problema Tudo Bem (Liminha/Ana). A cantora regrava Chuck Berry Fields Forever, de Gilberto Gil, com o autor participando ao violão. Arnaldo Antunes, que assina várias faixas em parceria com Ana, faz vocais em Na Multidão. Como cantora Ana Cañas segue refletindo sua aura jazzística através de toques sutis mas ao mesmo tempo explora novas regiões da voz, que aparece muito mais solta e forte, perfeitamente adequada à linha que imprime ao trabalho. Hein? é um grande disco. MySpace: www.myspace.com/anacanas
VERÔNICA FERRIANI & CHICO SARAIVA – Sobre Palavras – Borandá - Parceiros profissionais há tempos, Verônica Ferriani e Chico Saraiva lançam Sobre Palavras, belíssimo disco que traz parcerias do autor e violonista com o letrista Mauro Aguiar. É um dos trabalhos contemplados pelo Projeto Pixinguinha, da Funarte, em São Paulo. Sobre Palavras é uma avalanche de belos sons e versos inspirados. Verônica Ferriani é uma intérprete refinada, que navega com sua belíssima voz por gêneros diversos que vão de samba a maracatu, passando por valsa, tango, bolero, canção. Mostra imensa sensibilidade ao abordar temas como Cabotino Coco, o xote Araripe Ararat, o tango Na Pele, o forró Sanfona Safenada, o bolero Revés ou o maracatu Errática. As melodias de Chico Saraiva são ricas, repletas de nuances e caminhos harmonicamente intrincados, que instigam a audição. Violonista e arranjador talentoso, explora sonoridades inusitadas com habilidade e segurança. Os versos de Mauro Aguiar têm ritmo, cor, são diretos e claros. O CD tem participações especiais de Marcelo Pretto em Errática e de Chico César em Sanfona Safenada. Site: http://www.sobrepalavras.com.br/
CAUBY PEIXOTO – Cauby Interpreta Roberto – Lua Music - Um dos grandes sonhos de Cauby Peixoto era fazer um disco somente com canções de Roberto Carlos. O Rei, por sua vez, sempre gostou de se ouvir interpretado pelo Professor. Cauby Interpreta Roberto concretizou sonhos e gostos. Produzido por Thiago Marques Luiz, o novo CD de Cauby Peixoto é exemplar. O cantor se debruça com delicadeza e sensibilidade sobre o cancioneiro romântico dos anos 60 e 70 de Roberto e Erasmo Carlos. Cauby não carrega nas tintas e traz as composições de Roberto e Erasmo para os seus domínios, para uma aura ainda mais romântica, com reforço preciso dos arranjos de Hamilton Messias, Ronaldo Rayol, Cintia Zanco e Keco Brandão. O repertório, de primeira linha, inclui Proposta, De Tanto Amor, A Volta (em levada de bossa), Sentado à Beira do Caminho, Os Seus Botões, Música Suave, As Flores do Jardim da Nossa Casa, Não Se Esqueça de Mim, Desabafo (apropriadamente transformada em tango), Olha (uma das melhores interpretações da carreira de Cauby), À Distância e O Show Já Terminou (com citação de Conceição no arranjo). Trabalho emocionante.
MARIANA AYDAR – Peixes Pássaros Pessoas – Mercury/Universal - Mariana Aydar foge do estereótipo da maioria das cantoras em atividade. Herdeira das sutilezas musicais do pai, Mário Manga (Premê, Música Ligeira), a intérprete e compositora paulistana lançou em 2009 seu segundo disco, Peixes Pásaros Pessoas, onde o samba ultrapassa suas fronteiras ao surgir acoplado a beats eletrônicos e componentes latinos, o que lhe confere sabor especial. A empreitada é fruto de trabalho conjunto da cantora e dos produtores Duani e Kassin. Instrumentos acústicos e efeitos sintetizados surgem lado a lado, o que dá ao samba um frescor inusitado. Como cantora Mariana está mais madura e explora melhor seus recursos técnicos ao usar registros mais graves da voz. Entre os temas estão os bons sambas Aqui Em Casa (Mariana/Duani) e Florindo (Duani). Participações especiais da cantora caboverdeana Mayra Andrade (em Beleza, de Luisa Maita e Rodrigo Campos) e Zeca Pagodinho (O Samba Me Persegue, de Duani). Se fosse criado um rótulo para definir o som de Mariana Aydar, este poderia ser 'samba oxigenado'. MySpace: www.myspace.com/marianaaydar
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