domingo, 12 de setembro de 2010

A VOZ SUBVERSIVA

CÉLIA CÉLIA    
O Lado Oculto das Canções 
Som Livre

Célia nunca foi adepta à mesmice. Ao longo de quatro décadas de carreira, essa maravilhosa cantora paulistana sempre soube surpreender através de repertório bem selecionado e repleto de surpresas. Seu novo álbum, O Lado Oculto das Canções, não difere disso. Para comemorar os 40 anos de trajetória, ela optou por fazer um disco altamente subversivo, no melhor sentido do termo. Pinçou canções de origens as mais diversas, mexeu – ao lado de Fernando Cardoso e Ogair Jr, respectivamente idealizador e diretor musical do projeto – nas harmonias, alterou linhas melódicas. O resultado: pura magia. Ela sabe ser densa nos momentos certos, irreverente quando o tema assim o requer, doce na medida exata. Célia brinca com as notas com a propriedade de quem conhece o manual de instruções do bom cantar de cabo a rabo. Mas vai além, ao descobrir novas possibilidades no que canta.

Aqui, grandes canções como Vinho Antigo (Dalto/Cláudio Rabello), lançada por Biafra nos anos 80, Se Não For Amor, autoria e gravação original do sempre bom Benito Di Paula, Não Vou Ficar, de Tim Maia, que fez emergir a porção soul de Roberto Carlos nos anos 60, Êxtase, uma das mais apaixonadas baladas de Guilherme Arantes, Apelo, pérola da parceria Baden Powell-Vinícius de Moraes, Meu Benzinho, tema dilacerante de Ângela Rô Rô, Cigarro, ótima canção de Zeca Baleiro, e Eternamente, de Tunai, Sérgio Natureza e Liliane, gravada originalmente pela co-autora, e de onde Célia extraiu o título do CD (a exemplo do que fizera em seu trabalho anterior, Faço no Tempo Soar Minha Sílaba, título pinçado de Muito Romântico, de Caetano Veloso).

CÉLIA 2 Ney Matogrosso divide com Célia os vocais numa versão absolutamente inusitada do clássico brega romântico Não Se Vá (Tu T’en Vas), lançado por Jane & Herondy nos anos 60. O duo explora ao extremo a dramaticidade do tema, escudado por belo arranjo de cordas. Célia é uma cantora visual. Ao ouvi-la, podemos ‘ver’ as histórias de cada canção como se fossem um filme. Poucos são os intérpretes que conseguem esse arrebatador efeito. É apenas um dos predicados que fazem dela uma das maiores cantoras brasileiras há quarenta anos. Belíssimo disco.   

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