quinta-feira, 7 de agosto de 2008

...E TUDO COMEÇOU ASSIM

ELIZETH CARDOSO
Canção do Amor Demais
Festa/Biscoito Fino


Logo após o término da última sessão de gravação do LP Canção do Amor Demais, de Elizeth Cardoso, o maestro, arranjador e compositor Antonio Carlos Jobim, produtor do trabalho, ao sair do estúdio encontrou com o igualmente genial Haroldo Barbosa em plena Av. Rio Branco, no Centro do Rio. Foi logo dizendo ao amigo: 'Rapaz, acabamos de gravar um negócio que acho que vai pegar...' O tal 'negócio' pegou mesmo. Era a Bossa Nova.

Nesse encontro, Tom estava acompanhado de um jovem violonista baiano que naquele mesmo ano sedimentaria de vez as raízes do novo gênero: João Gilberto. Canção do Amor Demais, lançado pelo selo Festa, de Irineu Garcia, na verdade trazia apenas um samba com a batida que se convencionaria chamar de Bossa Nova. Era Chega de Saudade. Todas as faixas foram compostas por Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Em dupla ou sozinhos. Entre os outros temas, Serenata do Adeus, As Praias Desertas, Janelas Abertas, Eu Não Existo Sem Você, Estrada Branca, Modinha, Canção do Amor Demais.

Naquele mesmo 1958, João Gilberto lançaria pela Odeon o LP Chega de Saudade. Estava feita a revolução estética da música brasileira, que passava dos sambas-canção e das gravações dos cantores com vozes poderosas (como Elizeth Cardoso, neste disco contida e brejeira nas horas certas) para sambas com um suíngue irresistível e vozes pequenas, porém exatas para o que se propunham. Canção do Amor Demais volta em edição caprichada da Biscoito Fino, com áudio remasterizado. É a terceira vez que o disco sai em CD. Antes, teve versões por Movieplay e Eldorado. Mas esta aqui supera as outras pela riqueza do som e das informações do encarte (um texto de Ruy Castro e o fac simile do que Vinícius de Moraes fez para a edição original em vinil). Um clássico obrigatório, principalmente por representar a gênese do som que deu novos rumos à música popular do Brasil.

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