A partir de hoje, indicarei aqui álbuns imprescindíveis em qualquer acervo – na minha opinião, que fique bem claro. Começo essa série de posts com um grande disco do Joelho de Porco. Além de lembrar este seminal grupo do rock satírico nacional, é mais uma forma de homenagear o Mestre Zé Rodrix, que nos deixou no último dia 22.
JOELHO DE PORCO
18 Anos Sem Sucesso
Eldorado - 1988
Quando o Joelho de Porco se reagrupou, no início dos anos 80, o objetivo era dar umas ‘joelhadas’, como seus integrantes – Próspero Albanese e os inesquecíveis Zé Rodrix, Tico Terpins e, a partir de 1985, David Zingg – diziam. Eles queriam apenas se divertir. Foram produzidos, nessa fase, somente dois discos: Saqueando a Cidade, lançado pela Alvorada/Continental en 1983 (reeditado em CD pela MoviePlay), e 18 Anos Sem Sucesso, pela Eldorado em 1988. Em 1985 o grupo participou do Festival dos Festivais da TV Globo, ganhando o prêmio de melhor letra com a genial A Última Voz do Brasil, autoria do grupo.
18 Anos Sem Sucesso tem requintes de sofisticação hoje impossíveis de encontrar em produções nacionais. O disco foi gravado em São Paulo nos estúdios da produtora A Voz do Brasil, de Zé Rodrix e Tico Terpins, antiga Áudio Patrulha. O quarteto teve acompanhamento de grande orquestra. Para os arranjos foi convocado o maestro Antonio Porto FIlho, Portinho, que fez um trabalho exemplar, reconhecido com o Prêmio Sharp da categoria naquele ano. Com extremo bom humor e um toque de nostalgia, Rodrix, Terpins, Albanese e Zingg colocaram lado a lado versões de clássicos americanos e composições novas num resultado deliciosamente harmônico. Ao contrário de Saqueando a Cidade, uma ópera de costumes sobre tipos e situações de São Paulo, 18 Anos de Sucesso era um disco de canções.
O material inédito incluia a faixa-titulo, autoria do quarteto e do maestro Jota Rezende, na qual eles diziam não mais querer passar por situações vexatórias e/ou constrangedoras como tocar em teatros sem camarim, cantar em reveillon de boates classe A ou fazer shows para disc-jockeys de rádios, o hilariante cha-cha-cha Mariquinha e Maricota (Rodrix/Terpins/ Albanese/Zingg), sobre duas prosaicas irmãs de Trinidad Tobago, homenagem a um velho hábito solitário masculino e a valsa-fado De Véu e Grinalda (Tico Terpins/ LeoN Cakoff)
Os temas conhecidos eram as versões Enquanto Você Pisa Ni Mim (You Really Got a Hold On Me, de Smokey Robinson), O Homem Que Eu Amo (The Man I Love, de George e Ira Gershwin), Se Eu Me Apaixonar (When I Fall In Love, de Edward Heyman e Victor Young), Flipper (Vas/Durhan), tema do seriado estrelado pelo simpático golfinho, o blues Rebelião no Carandirú (Riot In Cell Block # 9, de Jerry Leiber e Mike Stoller), retrato de fatos de difícil digestão ocorridos no hoje desativado presídio, todas assinadas por Rodrix, Terpins, Albanese e Zingg, a valsa Mamãe (David Nasser/Herivelto Martins), Twist de Branco (de João Roberto Kelly, um dos temas do maravilhoso programa musical Times Square, da TV Excelsior), Boeing 723897 (de Tico Terpins, gravado originalmente pela primeira encarnação do Joelho de Porco em seu álbum de estreia, São Paulo 1554/Hoje, de 1975), a instrumental The Savers (Perrey~Kingsley) e a canção tradicional alemã Im Himmel Gibst Kein Bier (Slebel/Neubach), traduzida pelo grupo como No Céu Não Tem Cerveja. Detalhe curioso: a contra-capa do LP trazia a foto dos integrantes do Joelho ao lado de um pugilista iniciante que era patrocinado por eles. O grande compromisso do Joelho de Porco à época era a diversão sem limites ou falsos pudores. E eles levaram isso a termo de modo brilhante, num disco antológico. Permanece inédito oficialmente em CD.
Um comentário:
se eu fosse selecionar as 10 melhores bandas nacionais da história esta seria uma delas (ao lado de sá, rodrix e guarabyra, incriveis, mutantes, nação zumbi...). pena que tenha sido condenada ao ostracismo.
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